um casaco de inverno, uma segunda pele, grosso como a casca de um carvalho velho, permeável como o leito de um rio sempre novo. aprendi a enrolá-lo como um xaile, um turbante para a alma que me aquece e areja o lugar onde se cozinham as dores e se afinam os mecanismos do riso. tecnologia de ponta esta teia e esta trama quente e fria ao mesmo tempo, sem regulador de intensidade. sempre presente.

neste natal...
esticar o pescoço e olhar para as estrelas, mesmo que não se mostrem
ontem, enquanto dormia,
perdia a vida

eu não acordei àquela hora

hoje a ausência é a mesma
mas muito mais escavada no peito

.

preferia não te ver nunca mais
a ter de ver-te pela última vez

o monstro sorridente da segunda circular
esgueirou-se pelas falhas da fita cola. encheu as órbitas de autocolantes, dois planetas sem espessura. fez sua a pele que lhe amarfanhava os gestos. pôs o seu melhor sorriso e desafiou os seres parados. amanhã, quem sabe, viajará num forro rasgado, num estofo coçado, num sonho estafado. procura-se músculo invisível, monstro que se entranha entre o osso e a pele.

obs.
o caminho faz uma curva em cotovelo muito comprida. é mais fácil atalhar pelo meio da terra e subir depositando alternadamente o peso nos degraus improvisados pelas raízes expostas. os jardineiros que se amanhem. as minhas calças são azuis, não verdes. pensava que ninguém o via e no entanto. ao chegar lá acima sacudiu os pés e seguiu pelo chão empedrado.

um salgueiro
para c.