decanter
gostava de saber de cor todas as espécie de pássaros, todos os países do mundo, todos os tipos de nuvens, todos os nomes de ventos, todos os afluentes de todos os rios, todas as letras e acordes de todas as canções, todos os versos de todos os poemas, todas as pontes e miradouros, todos os traços de todos os rostos, todas as linhas de todas as mãos, todas as receitas, todas as mezinhas, todos os percursos de todos os pontos para todos os lados, todos os horários de todos os transportes, todos os tipos de papel, todas as línguas de todos os povos, todas as pedras semi-preciosas, todos os comandos, todos os passos de dança, todas as árias do bel-canto, todos os ossos e todos os músculos de todos os seres sem existência, todas as anatomias de todas as vozes, todos os ângulos, todas as inflexões, todas as temperaturas, todos os abismos e promontórios, todas as geometrias, todos os sedimentos, tudo o que mate a sede
o dia está amarelo
o ar comprime emplastros contra a pele húmida
benevolente
a casa recebe-me com uma janela de luz

entro e não fecho a porta

num quarto uma criança dorme
noutro quarto um homem morre
ambos os sopros se confundem
num diálogo inaudível
o sopro da existência que desiste
o sopro da inocência que resiste



(8 de julho de 2010)