presentes

deram-me muitas vezes (muitas)
embrulhos que eu fingia desconhecer
caixas (caixas transparentes)
cheias de dias claros (brancos)
embrulhadas em nuvens (nada)
com laços azuis (um céu sem espessura)
eu aceitava os embrulhos
guardava-os nos braços, nas pernas, onde os pudesse ver
e esquecia-me deles
até sentir uma dor fininha, uma comichão, uma moinha
e perceber, com a ponta dos dedos,
que mos tinham arrancado
gente estúpida que desconhece
os caminhos da pele
e que não vê que esta cobre
tudo o que o sonho rejeita