astro
lábio

há vários dias que tento identificar o local preciso onde os contornos se tocam
(tenho o tempo da cozedura da massa para escre
ver)
a grande falha oceânica que desenha a fronteira
(enquanto a água não ferve e a sêmola não amolece)
mas foge-me a latitude e a longitude por entre os esconderijos do peito
(desfio as frases duras e lânguidas que deram guarida a outro fervor)
afundam-se num misterioso mar que engole planetas e estrelas
(desfaço-as para perceber o que gu

ardam dentro)

sinto-me fonte hidrotermal ecossistema de dias claros
que penetram o chão do mundo e ressurgem
trazendo consigo o clamor do fogo daquela profunda garganta aberta
golpe de asa golpe de fisga golpe de sol
a pele enrugada pela água confortada pela luz
e de novo imersa no silêncio morno da espera

mas não sei onde fica o lugar onde os contornos se tocam
(a água evaporou e a massa queima)