julieta

dois gramas de beladona bastam
uma lasca de morfina sem retorno
morfeu em vez de romeu
hipnos somno em sono de ave
cama ardente de penas
que reclama o corpo de tânato
um corpo que tome aquele corpo
e o inflame


cada flor guarda o segredo das mortes não consumadas
e cada bolbo enterrado que não germina guarda o meu segredo

embala-me o cheiro doce e enjoativo
que se entranha nas fibras do tempo

as flores que não cheguei a pôr na jarra

dirão que as descurei que não as aproveitei
na verdade foi assim que me pareceu certo deixá-las
um molho de flores mortas sobre o armário da entrada

para lá da porta a estrada