pimp myspace with Gickr

fora de foco

fado

contra-luz

cinemática linguístico-estática
os sentidos apurados para a distância. percorrer muitas páginas e saber que faltam outras. tantas. a estrada a desfazer-se em quilómetros que parecem vomitar mais quilómetros. ainda. dizer com as mesmas palavras, mesmo não sendo as palavras as mesmas. é isto que faço aqui sentada.

dedos de cal pintada
sopram beijos alcalinos
muros como camas
comportas
o sol branco ainda quente
nas minhas costas

estio

asas de cigarra
preenchem-me os dias sem fumo
a cabeça pende-me de pura dolência
não fosse o crepitar debaixo dos pés
seria
inteira
sonâmbula
assomada pelo fogo

assim deixo-me ir
do tamanho das folhas
protegida por sombras acidentais

há pessoas que sabem ler de dentro para fora. pessoas que não precisam de palavras como escoras. peguei neste teu poema e fechei-o novamente na caixa. abri-lo-ei de novo quando me apetecer rir e chorar ao mesmo tempo. ver-me por dentro sem vomitar.


obrigada, c.

traduttore traditore
e, na espera, entre duas respirações, dobrei-me em asas de papel. o silêncio a pesar-me nas pálpebras, mas o fio da história a picar-me todos os poros, cosendo inutilmente palavras à minha memória externa. não sei por que razão não consigo lembrar-me dos filmes como as outras pessoas. uma ou duas imagens, por vezes só um sent ir.

perfur ar
acordava redonda e invisível. sem arestas. sem peso. os amigos reconheciam-na por um ou outro reflexo, se a luz por acaso incidia sobre ela no ângulo certo. bastava um sopro, uma intenção, um entreabrir de lábios. tarde de mais.

para a frente
trevos e azedas debaixo dos pés
um
pouco mais que pele como bandeira
dois
um, dois
um

wonderful town
isto passou-se em lisboa. um homem com pés de pássaro passou por mim na rua. levava um vaso com uma orquídea branca muito alta que lhe indicava o caminho. segurava o vaso com as duas mãos. ainda não o sabia, mas deixara o porta-chaves esquecido em cima do balcão da loja, na atribulação do multibanco, da hora tardia, das redes saturadas. a loja estava a fechar quando entrou decidido a levar a orquídea branca e a empregada fizera o especial favor de atender aquela urgência. teria de tocar à campainha ou chamar os bombeiros para lhe arrombarem a porta. atravessava a estrada, numa rua perpendicular à minha, no momento em que o meu sinal mudou para verde, mas não apareceu no retrovisor. eu vinha do cinema. ele ia nessa direcção.

e tocar-te assim com vidro de permeio.
beijar-te os cristais de açúcar que trazes presos nos olhos
pousa quando quiseres no meu para
                      peito. estarei sempre pronta para a fotografia

azul

quando mudei de casa
levei comigo o meu cão de loiça à escala
de encontro ao peito, para não partir
descobri que tem orelhas como búzios
cheias de um mar refém

a excepção

para a a. (uns segundos depois)

e agora voo



deixo este ramo por alguns instantes. tem mesmo de ser. fica a minha contribuição para a milk+wodka a fazer companhia a quem por aqui tropece. esta não é aversão a versão final.

de aveiro para o porto, a partir de hoje, na maria vai com as outras

*Iniciativa e selecção dos poemas
Mercado Negro (Aveiro)

*Design e ilustrações
Menina Limão

*Textos de:

*c-asa (carolina rodrigues) em A Casa Imaginada
*a.m. em A Imitação dos Dias
*margarete em Acknowledge (Or Whatever) Thyself
*nocturnidade (cláudia ferreira) em Agulha
*marta em Do Avesso
*martinha. (marta poiares) em Entre Linhas
*r. (rute mota) em Esta Distância Que Nos Une
*eyes shut em Eyes Shut
*gato legível em Gato Legível
*saturnine (raquel costa) em Little Black Spot
*pedro. em Loose Lips Sink Ships
*happy and bleeding em Morrer de Improviso
*mb em Musas Esqueléticas
*aida monteiro em O Perfil das Casas, O Canto das Cigarras
*hugo em Solvstäg
*o peixe que queria ser um tira linhas (rita alberto) em Tampadecaneta
*ana filipa gonçalves em Tarte de Rabanete
*clAud (cláudia caetano) em Tempo Dual
*lebre do arrozal (maria sousa) em There’s Only 1 Alice
*tratado de botânica (joana serrado) em Tratado de Botânica
*papel químico em Triplicado

presa às palavras inversas que arrancaram do papel
a tinta preta, já gasta, com sangue diluído em céu

guardo contornos nos bolsos
rolinhos de linha que não cosi à pele
são como contornos de nuvens: coelho, cisne, cavalo, castelo
lavo-os na máquina a 30º (para não encolherem)
e uso sempre amaciador

insuflado beijo que materializa a sombra
asas camufladas no instante do desejo


não aprender

tesouras, elefantes e borboletas
sons que perfuram gavetas
patadas de pó, florestas
poisos de luz insinuam-se nas frestas
não tapar, não abrir, não fechar

um livro em cima da cabeça
não cai nem mesmo com pressa

os cavalos a correr
já venho!


sull'orlo della sera



atrás do sol
prometeu-me um sinal todas as noites, um clarão, um risco no céu, um acender, um apagar. para que não restassem dúvidas apareceu-me à janela e aqueceu-me os ombros e o rosto. depois afastou-se, caminhando de costas, com os olhos presos aos meus como dois feixes de luz. fiquei ali plantada, ganhando raízes que se entranharam pelas frestas dos mosaicos, pelos tijolos, pelas tubagens, calcorreando paredes em busca de solo, de outras raízes, desviando-se de alicerces e de lençóis freáticos, correndo mais depressa que as horas do dia, mais ardentes que o próprio núcleo da terra, até chegar ao outro lado do mundo. e, no entanto.



para a *


haiku

no fio
o frio
a nu

desdobrou-se em camadas finas como folhas e meteu-se no forno. eléctrico. saiu inteiro, soldado, preso por pinças, acabado. pronto.
à sua espera uma fanfarra de instrumentos, bons e maus condutores de corrente. na única boca que desejava sucumbiu ao peso dos dentes, às voltas da língua. como uma ave que p
ousa num ramo mais leve que o seu próprio corpo.