kokedama 
tenho uma oliveira
presa por fios
que morre sempre que 
eu morro 
o meu nome
insuflado de seiva
insiste em rebentar
à minha revelia
em falhas
folhas
pequenas
redondas
promessas
de teimosia

fui sempre a peça do puzzle que não encaixa
tenho as elipses viradas para dentro
sou peça non grata

carta

disseste que ias ouvir o mar
que lhe ias pedir uma coisa
já que era tempo de lua nova
de marés vivas
e eu andei com a letra do sting na cabeça um dia inteiro
à falta de melhor debussy
a expurgar imagens cheias de filtros ruído e camadas
imagens excessivamente retocadas que se sobrepunham
à imagem nua da tua mão 
a escrever duas linhas
a sublinhá-las
a enrolá-las
e a metê-las 
na garganta de uma garrafa






1.º de maio

farta até à cona
de cães sem cadastro
de gente sem lastro
de gente sem luz
de gente sem lente
de gente dormente
de gente decente 
de gente que mente
de gente gemente
de gente que mia
de gente acendalha
de gente canalha
gentalha fervente
em banho maria