janela
reparei hoje que tens um olho de cada cor. com um vês-me por fora, com o outro vês-me por dentro. não sei qual é qual, sei que os meus se atam aos lenços que saem da tua boca, presos por nós, quando me dedicas esses mirabolantes números de magia. palavras vestidas de cordas. laços azuis e verdes.
prometi que ia passar o dia muda. a minha boca seria uma janela fechada, terias de ler-me nos olhos, na pele, aquilo que quisesses saber. não te vi nesse dia. cada hora que passava acoplada à seguinte com um clique, numa corrente que me asfixiava os gestos. a música a doer-me nos poros como água oxigenada, o vento a lembrar-me que tenho corpo e que o corpo respira. nunca mais prometo nada, prometo. agora é noite e a luz é da cor que eu quiser.
acordei sobressaltada, a janela escancarada, as cortinas desesperadas por tocar a fachada em frente. levantei-me entorpecida e fechei a janela, devolvendo as cortinas brancas ao vidro e à parede. voltei para a cama e tapei-me até ao nariz para assistir ao teatro de sombras. preto no branco. um ramo, uma folha, um ramo, uma folha, um ramo, uma folha, um r amo, uma f olha, umr amo, umaf olha. amo. olha.
nota: a imagem não é minha. não sei de quem é.
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