repetir
dobar meadas contigo. gosto daqueles momentos em que nos olhamos olhos nos nós e o movimento dos braços disfarça o nervosismo. tu enrolas o novelo, altiva. eu não descolo as mãos dos fios, mesmo que os dedos por vezes brinquem com a ponta que foge. não vês que não sei da ponta. não vês que só finjo que sei como se faz. não sei o que ser quando já não houver mais linhas nas minhas mãos que as linhas das minhas mãos, sem outro horizonte que me corrija a perspectiva. o novelo já está maior que tu. eu sou do tamanho da meada. do tamanho das minhas mãos. iguais às tuas.
transparente
como uma casca de cebola. como uma das. como as. como as cascas.
mergulhei num mar em camadas e saí com os olhos salgados,
mas com lentes de aumentar.
como uma casca de cebola. como uma das. como as. como as cascas.
mergulhei num mar em camadas e saí com os olhos salgados,
mas com lentes de aumentar.
recebi um embrulho suspeito. papel manteiga e uma guita a segurar as pontas. recebi-o num movimento velado por olhares cúmplices. guardei-o na mala e trouxe-o para casa, protegido por cadernos, canetas, catálogos, óculos, moedas, multas e chaves. lá dentro está um livro. sempre que termino de ler mais uma página, volto a refazer o embrulho. nunca se sabe.
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