hoje
sopro
in tenso
sopro
eu sei que há cortinas no céu. labirintos de paredes translúcidas onde correntes de ar me transformam os braços em asas. e pelos corredores do céu retratos de rostos sorriem e seguem-me com os olhos. não sei se sorriem sempre ou se é do ângulo em que a luz incide sobre eles no momento em vou a passar. prefiro o rosto azul sem rosto que não me prega os olhos nas costas, cicatrizes de voos felizes.
impressão
matricial de 24 agulhas
se não medires as palavras, se não as contares, se não medires o comprimento das frases, o alinhamento, se não medires a extensão do texto, a intenção, se não verificares a ortografia, se não ligares a correcção automática, se não contares os erros. guardas
ensaio geral
ontem vi-te em grande, numa sala às escuras. não estavas na luz, nem na sombra, na voz ou no silêncio. eras a soma de muitas partículas de pó e de pele, partículas de gestos invisíveis a olho nu. porque os gestos visíveis somados se podem projectar às escuras, fui lá ontem, na esperança de também te encontrar. trago-te no bolso como um amuleto. uma espécie de combustível. um daqueles cristais que fechamos na mão quando os pés se desprendem do chão. não que acredite nessas coisas.
imagem: "o bosque". último ensaio [fev. 2006]
fui
com rodas silenciosas nos pés
ver se encontrava uma torneira
que me enchesse este buraco no peito.
por agora é lá que guardo os meu braços,
nas galerias internas que me acomodam os gestos.
e assim, seguro ao que resta,
evito perder mais partes de mim.
o buraco tem o tamanho exacto
da minha mão fechada.
por vezes finjo que os braços são vias
e que o sangue corre, involuntário,
alheio ao meu movimento.
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