dieta
no precário equilí
brio das horas
balanço o meu peso
peso o meu balanço
e não consigo andar direita
a dieta não se compadece
do lastro
e a gravidade suga-me a alma
mais do que devia
de dia
arrasto um saco de sombra
que o sol me impõe
à noite
sou toda sombra
e arrasto-me
saco de pele e s
obras
janus
é estreito o corredor desta casa
há que passar de lado
roçando os ombros, o peito
as coxas e os calcanhares
a dada altura o corpo é parede e a pa
rede corpo
como se a verticalidade se impusesse
numa espécie de ética física
talas em vez de pórticos
um corredor sem portas
que desem
boca não se sabe onde
a cal cobre a pele de pó
e os dedos deixam um rasto de estrelas
sem frente nem verso
Tenho os pulmões encharcados em choro seco,
uma rocha plana que me aconchega o peito.
A tampa da escrivaninha
do meu quarto de menina
escondia papéis amachucados
com frases sobrepostas,
aparas e copos sujos de chocolate.
À frente, no seu suporte perfeito,
duas canetas
só para enfeitar.
Sempre gostei do cheiro das aparas
e dos bicos de lápis desfeitos,
o cheiro a estojo fechado.
Subscrever:
Mensagens (Atom)