quando eu era pequena tinha um polvo amarelo de lã em cima da cama. os
tentáculos eram longas tranças e dentro da cabeça do polvo era onde eu
guardava o pijama. quando eu era pequena fazia a cama todos os dias e
punha o polvo em cima da colcha, não a meio, um pouco mais para cima,
com as oito tranças muito bem esticadas e à mesma distância. quando eu
era pequena usava totós e tranças.
já não faço a cama todos os dias, embora ainda seja pequena, e os meus oito braços não esticam. uns esforçam-se por tocar, outros para não deixar cair. são elásticos sem o ser. por vezes enleiam-se. muitas vezes. outras vezes entrançam-se. e, como acontece quando encostamos as costas das mãos uma à outra e cruzamos os dedos, também os meus braços parecem ganhar vida própria, desobedecer à vontade, mexer quando não devem, parar quando não podem, recomeçar sem aviso, chegar perto demais, recuar sem eu ver.
já não faço a cama todos os dias, embora ainda seja pequena, e os meus oito braços não esticam. uns esforçam-se por tocar, outros para não deixar cair. são elásticos sem o ser. por vezes enleiam-se. muitas vezes. outras vezes entrançam-se. e, como acontece quando encostamos as costas das mãos uma à outra e cruzamos os dedos, também os meus braços parecem ganhar vida própria, desobedecer à vontade, mexer quando não devem, parar quando não podem, recomeçar sem aviso, chegar perto demais, recuar sem eu ver.