tapumes
ninguém me disse que o coração se abria com uma micro chave sextavada
com nove pontas de precisão
talvez por isso andasse a dormir ao lado da cozinha
e a sonhar com la
gosta suada
(prato que nunca fiz por pudor de meter outro bicho que não eu própria numa panela de água a ferver)
pesadelos às prestações

também ninguém me disse que a gaiola que resguarda o coração
não tem porta
talvez por isso de nada me tenha servido
o pé de cabra que guardo atrás da porta de casa
nem o lenço da cabra cega
nem a cábrea que ainda me ampara
trago os bolsos cheios de pessoanas pedras
que converti em seixos com as minhas mãos
hei-de de saber atirá-los em arcos perfeitos a perder de vista
sobre um espelho de água impossível de partir

preia-mar
levamos
uma mão cheia de dias
entre o côncavo das nossas mãos
uma mão cheia de luzes e ausências
escoltadas por janelas simétricas
uma mão cheia de estradas
uma mão cheia de saídas
uma mão cheia de sinais
uma mão cheia de conchas
uma mão cheia de sóis
pelo longo passadiço de madeira tratada























Kate Castelli, “The Hard Way”, woodblock on book covers