Fizeste-me uma cama de gato com feixes de laser, cordas de um ringue que todos os dias me incumbira a mim mesma de desenlear, escudo de costelas invisíveis, fitas de luz em torno do maior diamante do mundo. Falso. Um diamante falso, de plástico, lindo na sua cor impossível e tóxica, made in China, chegado por mar.
Vesti o meu fato completo de neoprene preto e ensaiei os passos de ninja durante meses. Nuns dias parecia fundir-me com o chão, sem outro som para além do libertar rigoroso da inspiração que me permitisse deslizar até ti como uma folha de papel sem espessura. Uma apneia de papel que dobrava em pássaros e conchas. Noutros, porém.
Noutros dias, ainda com o balançar da última viagem a arrancar-me os pés de terra firme, eu insistia em rocegar o fundo do oceano, no meu eterno desencontro com o tempo do mundo. Em busca de um tesouro pequeno. Um tesouro. Pequeno. Rocegava o fundo dos dias em busca do maior diamante de plástico do mundo, na esperança de que a configuração dos feixes de laser combinasse com os espaços vazios do meu corpo, uma chave de luz que me me abrisse a todos os lençóis freáticos onde achava que dormias. Engano meu.
Voltei aos livros para confirmar se não me terei enganado também na anatomia da tua voz. Sinto que feri um ponto vital porque deixei de ouvir a minha própria respiração e sei que respiro, porque o vidro embacia quando aproximo a minha boca. Tu estarás certamente do outro lado do vidro, do outro lado das cordas, do outro lado da cama, no fim dos feixes de laser.