cama de gato

já não são largas trincheiras os corredores do mundo
nem alçapões sem fundo
nem vórtice nem vértice nem vertigem nem margem 
agora as mudanças de tempo fazem-se anunciar no palato
vêm em ondas adocicadas de contentamento
sem rebentação
e espraiam-se pelos ossos
com risinhos certeiros apontados à medula

ainda me equilibro nas estacas para andar sobre as marés
como um gato que insiste que sabe voar
ou como um gato que voa
ou como um gato que dizem que voa
ou como um gato a quem dizem que podia voar se quisesse
ou como um gato que dorme
debaixo da língua
sem sede sem fome
e sem nome