quando eu era pequenina tinha uma cadeira vermelha que o meu tio me comprou numa feira. uma cadeira pequenina.
era uma cadeira alentejana com flores alentejanas. o meu tio era do norte, não sei onde a comprou.
gostava dela por ser vermelha. por ter flores. por ser alentejana como a minha mãe. e por ser a minha cadeira.
usava-a para me sentar a ouvir as histórias que a minha mãe me ia contando enquanto cozinhava. a minha mãe nunca me dizia o que ia ser o jantar.
usava-a também para me empoleirar e chegar à prateleira da despensa onde estava o vinagre. gostava de beber vinagre às escondidas.
um dia a palhinha rompeu-se e a cadeira esteve muito tempo ferida num canto da casa. até que outro tio, alentejano, apareceu com buinho e passou horas a consertá-la.
fiquei muito contente, mas já não cabia na cadeira.