estou sozinha com o vento
a noite, o frio e o fumo.
nem os cães ladram
nem as nuvens sucumbem
à luz dos candeeiros de rua,
estrelas artificiais
penduradas em postes.
o sol não chegou
para acender as lanternas
fotovoltaicas
que se vão destruindo
ou despindo, não sei,
na sua dança redonda,
planetas apagados
de uma galáxia de poliéster.
comi chocolate e bebi café,
depreendo, por isso,
que estou aqui.
senti o frio como um raio-x,
depreendo, por isso, que estou.
não sei se algum dia serei,
se algum dia os meus gestos
se desprenderão da alma.
por enquanto não sou mais que uma esfera,
uma amálgama de matéria, reflexos e dor,
presa por dois fios prateados
muito finos e fortes,
ao tecto de um quarto
que reclama por luz.