watermelon sunrise

era um sol que se esvaía em água.
caminhávamos sobre as poças 
divertidos com aquele jogo da glória,
inebriados com a doçura do cheiro a fruta fora de época.
era o dia que de novo nascia
e outro dia e outro dia,
como se a luz se sucedesse só para nós, 
os privilegiados, os futuros, os passados, os presentes,
os mais-que-perfeitos.
eu fiquei presa numa poça
percebi que o líquido era viscoso, o cheiro artificial,
que o teu sorriso era feio
quando visto de trás,

que o teu sorriso não trazia uma mão agarrada,
nem um pau,
nem uma pedra,
nada.
e que a tua marcha só tinha uma direcção.
a tua direcção.
fiquei presa na poça.
masquei cada pedaço de terra cor-de-rosa

até que perdesse o sabor e a aderência
com o antídoto da minha saliva, com a perícia da minha língua.
e fiquei com sede.
com muita muita sede.
a morrer de sede.
só sede.