para ficar perfeita uma parede azul exige que cocemos o nariz com as
mãos sujas de tinta, que rocemos uma coxa na tinta fresca quando nos
levantamos para descansar os joelhos. que nos espreguicemos, longe, com
os braços em conta-gotas, antes de nos encavalitarmos no muro para
chegar os sítios mais altos. pingos de azul na cara, soprar os cabelos
do rosto, à falta de vento, moldar os pés nus às telhas quentes do sol,
barro com barro. para ficar perfeita uma parede azul exige minúcia de
joalheiro, mas também gestos largos e grosseiros. água, de tempos a
tempos, e uma cadeira de plástico por onde trepar e onde possamos
regressar.