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fui ver o nariz. estava muito calor no são carlos. daquele calor que brinca com o foco da retina. diverti-me a olhar para o fosso da orquestra. para as cordas a tapar os ouvidos quando a percussão eclodia. e para os brilhos pegajosos das peles perfumadas que ofuscavam as caras sem olfacto.
quando sai do teatro encontrei uns sapatos. uns sapatos que já tinha encontrado há muito tempo, noutra zona da cidade. noutra noite. andavam perdidos na minha mala, dentro de um cd sem nome, apesar de os procurar há muito como um perdigueiro. intrigou-me aquele cd que se veio meter na minha mão em vez das chaves e, quando cheguei a casa, juntei os zeros e os uns. um nariz que corre e uns sapatos sem cheiro.