árvore
porque no fim é só connosco que nos deitamos
com aquele que nunca dorme
que não se pespega no espelho a gritar-nos que somos tronco e membros
que não embacia o vidro
é menos denso que o vento
que não precisa de falar em surdina
para nos ensurdecer
que nos amordaça sem mãos
que nos engole sem boca
que nos digere inteiros sem a acidez do tempo
os vinte e um gramas de gente que pesam mais
que todos os céus plúmbeos de toda a literatura
mesmo a que não vive
sou cada vez menos o meu corpo
mesmo que cada vez mais o sinta
sou cada vez mais aquela que desa parece
nas páginas rasuradas da agenda
acordo folha filha de papel
adormeço folha mão amachucada