lura
pois mas isso agora que im
porta? abriste-me
essa nesga de ti
de onde se avista um mar inteiro
e eu tropecei nos esc
olhos
não cheguei a fe
rir-me
mas senti assomarem-se as lágrimas
depois não eram lágrimas
era eu que nadava debaixo de água
de olhos abertos mesmo sabendo
que o sal os castiga
vi um navio naufragado e várias âncoras com histó
rias
de muitas t
erras
e fragas de contornos instáveis
vistas de baixo pela lente de água
vi bombas de guerras antigas cobertas de algas
ou almas cobertas pelas ondas
mas almas que eram só vozes em loop
diziam-te
diziam todas as palavras de que és feito
(eu perguntava-me onde estariam as vozes que me dizem a mim)
depois não eram vozes era vento
e eu uma vela nova pálpebra pronta a recebê-lo
o ar frio a consolar-me a pele
a teia e a trama a remendar-me as pausas
a disfarçar os desacertos do sonho
a casear as bainhas por onde passar o cordame
que nos atava as mãos ao leme
nas correntes contrárias da foz
o sol sei que partilhamos
naquela pedra branca e quente
que fica de frente para o rio
(o adamastor nas nossas costas)
e a lua é a clara
bóia
por onde respiram os nossos braços sedentos
a minha lura sei que fica ao lado
de uma nascente