tive um sonho tripartido
três acções em simultâneo atrás da película de sono
que me deixaram nas mãos três imagens em cutelo

numa um homem submergia
num mar branco
de esferovite
o rosto decalcado num pano hirto
sujo
um sudário que não afundava
uma jangada sem fundo
presa pelos olhos ao céu


noutra estava perdida
tinha pressa
transpirava
as ruas bifurcavam-se como línguas
as pessoas voltavam-se à minha voz
mas só tinham costas
as pessoas eram casas

na terceira estavas comigo
e dormias
numa cama maior que o quarto
eu não cabia na cama
dormia dentro de ti
tu eras o meu quarto sem cama
eu era uma cama-jangada