miljø
aprendi a ler muito cedo, antes mesmo de saber ler. era frequente, em festas de aniversário e visitas a casa de amigos, ser subtilmente desviada para um quarto vazio onde se tirava a prova dos nove. um jornal, uma bíblia, a lista telefónica, qualquer coisa servia para provar que sabia ler de facto. no fundo achavam que tinha decorado todos os livros infantis e todos os fascículos da teleculinária, mas vacilaria perante a primeira linha de silvas nas páginas amarelas. não vacilava. saía em braços acolchoada pelos ahs e ohs que provocava nas expressões dos adultos, aliviada por ter superado o teste, surpreendida com o tamanho da admiração. surpreendida com o tamanho da agressão – pequena e invisível como uma agulha num palheiro.
tak mariana pelo artigo!