vivo no fio do papel
acordo com cortes sem espessura
que não sangram
não ardem não latejam
mas demoram mais tempo a fechar
e doem em linha recta
é por aí que se infiltram as palavras
sobretudo as palavras dos outros
palavras metálicas que picam
e ficam
que chocalham quando entrechocam
e me obrigam a contrariar o movimento natural
para que não me saiam por outras bocas
famintas sedentas
bocas que trago na ponta dos dedos
ávidas sôfregas de gritos
brados berros bramidos
e constelações de cicios
por isso nunca gostei de correr
diziam-me que não sabia
quando o que eu não sabia (nem sei)
era emudecer