adivinha

vê-se a lua daqui e eu sou lua também
redonda e distante no ponto
diametralmente oposto
o meu corpo telescópio de paredes escoradas
ergue-se como um céu finito de pedra
que aprisiona o reflexo das estrelas
quando as há


fundo
muito fundo
um mundo líquido transparente
habitado por ecos
sobre rios incandescentes

o que sou?

sou um poço
magia de vedor
trava-línguas destravada
locomotiva de fogo
sobre sulipas rasgadas
carris em faísca
de montanha-russa
saliva e sémen de vulcão
sou sede e água gelada
sou lava petrificada
vinte e quatro fotogramas
de cada segundo de vida
sou dedos sou braço sou mão
montanha coral asas chão
sou açúcar sou sal bem e mal
sou o que ouço o que vejo
o que dou e o que me dão
sou núcleo manto e crosta
estrela morta supernova
sou as ruas que me acolhem
sou as ruas que desejo
sou o além sou o aqui
sou os quinhentos anos luz
que me separam de ti