enigma

duas frases impossíveis
entrelaçam-se sedentas
como hera
de encontro a uma parede


a cal recebe-lhes os braços
que se contorcem
confundem e alastram
rebentando em folhas e frutos
procurando-se em profundas raízes
o tempo escava valas de rega
trincheiras invisíveis
múltiplos escudos de minerva
de muitas faces

ao longe
crispações microscópicas
minúsculos incêndios de silêncio
ínfimos cortes com a ponta da tesoura
arqueiros certeiros que apontam aos poros
e uma alma num corpo assombrado
tropeça nas pedras do peito
escolhos onde esfola os joelhos

um minuto de esperança
quinze palavras perdidas
e um dia
por pura teimosia da voz e da vida
nasce na hera em sobressaltos
uma flor
que se abre a medo em fonema
demasiado breve
demasiado curto
pequeno demais
para cobrir as feridas